Luto em médicos veterinários: como lidar com a dor? O cuidado com quem salva vidas.

“Cuidar de quem cuida”

Uma conversa sincera, leve sobre as nuances de lidar com montanhas de emoções na rotina da profissão médica (o) veterinária (o).

Dar um diagnóstico difícil, conversar sobre cuidados paliativos, eutanásia, limitação financeira familiar diante de um diagnóstico dispendioso, luto familiar, transferência de responsabilidade tutor-profissional, entre tantos outros cenários emocionais inerentes à nossa profissão.

Me chamo Antonella Chiaratti, sou médica veterinária atuante desde 2003. Acumulei essas e outras muitas emoções ao longo desse tempo.
A própria dor não me permitiu olhar pra dentro de mim por anos.
Fui engolida pela rotina, humana e familiar além da profissional.

Me matei em plantões intermináveis, se eu fosse embora alguém ia morrer. Não cuidavam como eu, não se importavam como eu. Esse era a frase que permeava eu cérebro e não tinha meia frase diferente disso.
Foram mais de 15 anos nessa loucura, pautada em salvar vidas de bicho.

Sim, sou apaixonada pela minha profissão. Mas tive que aprender a reconhecer que não consigo atender todos, não consigo estar disponível 24 horas, não consigo fazer eutanásia, tive que aprender a dizer muitos nãos pra aquilo que mais amo na minha vida (e ainda estou lutando pra ler essa cartilha).

Pedi para meu psiquiatra Dr. Thiago Fidalgo é minha psicóloga Ariana Gonzaga a compartilharem comigo a luta (minha luta) emocional em algo em torno de 6 anos já.

Convidei a Dra. Patrícia Gorisch, advogada atuante na proteção animal, também pra falar sobre os direitos dos médicos veterinária diante de situações ameaçadoras físicas e emocionais.

Compartilho com quem vive a mesma dor que eu, a ajuda que procurei. Talvez possa ajudar alguém a sair desse buraco negro terrível que dói e dói até pra respirar.

Somos, nos médicos veterinários, vulneráveis a ansiedade e consequentemente à depressão.

Procurem ajuda, foi o que me tirou um poço cheio de lama bem funda que eu não me mexia e fui escalando cada tijolinho daquele poço até sair dele. Foram anos. Hoje luto pra permanecer fora dele. Ele tá lá, ele existe, ele não sumiu. A luta é ficar longe dele.

Ressalvo aqui aos profissionais que o valor do nosso trabalho, inclui o valor a ser investido em terapia. Profissionais de veterinária clínica, hospitalar tem indicação forte de terapia.
Pense nisso.

Espero contribuir pra ajudar alguém.

Antonella Chiaratti
Médica veterinária
Especialista em felinos
Especialista em emergência e terapia intensiva
Especialista em clínica médica de pequenos animais
Gestora do Vitala CMV 24 horas
Mãe
Esposa
Administradora do lar
Mãe de 3 gatos: Tata, Maria Alice, Dominic
Mãe de 2 cachorras: Loise Caroline, Bianca
Amante de férias, viagens, comida boa e gente honesta.

Tel: 13 981337753